sexta-feira, 28 de maio de 2010

A vida como ela é.

Divulgo aqui em primeira mão pra vocês, a crônica que fiz pra escola e vai ser impressa em um livro logo, logo. Espero que gostem!



Depois de muito sofrer com dor de dente, fui à dentista e ela me receitou antinflamatórios e mais alguns outros remédios que deveriam vir em kit já, porque ao que me parece são sempre os mesmos. Fiquei uma semana tomando os ditos cujos, para que o leve inchaço desaparecesse do meu rosto. Depois de alguns meses de sofrimento, e de vários anos usando aparelho ortodôntico, resolvi que acabaria com essa história. Falei com a dentista que cuida do meu aparelho, ela afirmou que eu precisaria fazer tratamento de canal, ótimo. O fato é que quando fui tirar a banda (anel de metal que fica em volta do dente para segurar todo o aparelho) o dente simplesmente se quebrou, temos de concordar que ele é um ingrato mesmo, depois de 4 anos dedicados a ele e tudo que eu recebo em troca é isso, cacos? Indignação à parte. O fato é que lá se ia mais um bom tempo de trabalho. Fiz raios-X para tentar descobrir qual seria o veredicto do dentista, qual o final teria o meu dente. O que mais uma vez era uma grande dúvida. Passados já alguns dias, voltei para saber o que seria feito, e o dentista me aconselhou a conversar com a responsável por meu aparelho, para que ela me dissesse o que fazer. Pois bem, eu só não depositei toda minha raiva ali naquele momento, porque aquele belo dentista, tão simpático e protagonista de minha paixão platônica não mereceria ouvir nada a não ser elogios, afinal de contas, estava apenas fazendo o seu trabalho. Mal sabia eu que a história estava apenas no começo. Quando encontrei minha dentista para a manutenção mensal do meu aparelho, tratei de contar a ela todo o ocorrido, e ela me aconselhou a extrair o dente, pois bem, eu o faria. A secretária marcou o horário e dois dias depois lá estava eu no dentista pronta para extrair o dente que tanto me casou incomodo. Sem ter a menor idéia de como seria, entrei no consultório. Confesso que de alguma forma, o trabalho valeria a pena, pelo menos na parte em que eu estava lá, frente ao dentista que tanto admiro, e talvez não apenas profissionalmente. Dentei na cadeira e me preparei, mas porque pensar no que aconteceria se eu estava lá sendo tão bem trata? Como acontece em meus sonhos. Confesso que não me senti nenhum pouco intimidada até o momento em que vi uma enorme agulha na mão do dentista, e detalhe, aquela era só a anestesia! Tudo bem, eu só iria extrair um dente, nada que me aproximasse da morte. Foi um pouco tenso, mas eu só olhava nos olhos dele e conseguia pensar besteiras. Quando senti todo o lado direito da minha mandíbula amortecer foi estranho, e ao mesmo tempo confortante, eu não sentiria nada! Pelo menos foi o que eu pensei, mas quem diria que seria tão fácil? Eu sentia um misto de dor e pressão, pedi para o dentista aplicar mais anestesia, que ainda não era o suficiente, mas ainda doía um pouco. Ao fundo tocava baixo uma música no rádio, e eu até consigo me lembrar qual, um pagode, música bonita que poderia servir como trilha sonora de algum casal. Era estranho, mas eu pensava nisso enquanto sentia um desconforto bucal, o dentista puxava meu dente fazendo força para que ele saísse. Quando ele me mostrou o dente, eu senti um alívio, finalmente, foi o que eu pensei. Mas a raiz ainda estava lá na minha boca, e precisava ser tirada. Eu tive a infeliz idéia de olhar de novo nos olhos do meu dentista, digo, do dentista, e vi nos óculos que ele usa para a cirurgia a minha boca, meus dentes, e tremi, sangue. Eu sei que isso não parece ser muito assustador, mas eu tenho uma pequena fobia com sangue, tentei pensar em algo, mas aquela sessão de terror parecia não acabar nunca. Nas suas luvas tinham um pouco de sangue, e isso era desconfortável. Mas eu seria forte, não queria que ele pensasse que eu sou uma medrosa. Estávamos só nós dois naquela sala, e me deu vontade de segurar no braço dele, talvez assim me sentisse melhor, pensei em tantas coisas, e nem assim consegui fugir da pressão na minha boca. Em outras ocasiões eu até ficaria feliz de pensar, pressão. Como é que eu ainda conseguia pensar bobagem? O que parecia não acabar nunca finalmente chegou ao seu desejado fim, a raiz cedeu e me deixou em paz. Na hora de fazer os pontos, parecia não ser tão ruim, exceto quando via aquela linha indo e voltando da minha boca, mas ela já estava totalmente anestesiada, eu não sentia mais nada além de vontade de sair dali. Com duas certezas: a primeira, odontogia não é pra mim, não mesmo! E a segunda: aquele dentista sim, não consegue nunca cair no meu conceito, que homem forte e ao mesmo tempo dedicado e carinhoso. Ele limpou minha boca, tirou as luvas, o óculos, à máscara, e passamos para outra sala. Ele me deu uma lista de exigências, que a essa altura não requeria esforço algum de mim. A receita dos remédios, mais antinflamatórios e tudo o mais. O atestado. Marquei o horário pra tirar meus pontos alguns dias depois. E o final, por mais surreal que pudesse parecer pra mim, ele me deu um beijo de despedida. Mas que ironia da vida não? Logo hoje, que eu estava completamente anestesiada, que se me dessem um soco eu não sentiria nem cócegas. A vida é injusta mesmo, e há quem ouse me perguntar por quê. Mas podem rir, pimenta no olho do outro é refresco. Isso tem importância pra mim, embora haja controvérsias, mas nada posso fazer, é a vida como ela é!

Dia 11 (Desafio Musical):
Beeshop - Come and go

3 comentários:

  1. Sua crônica ficou MUITO legal. Adorei!

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  2. Ah Maiara, não sei se é real ou não, mas ficou muito boa, desde a extração do dente ingrato ao beijo de despedida com anestesia, hehe...

    Bjs...

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  3. Voce escreve muito bem!
    to seguindo.. bjs

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